Visitem nossos Blogs

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Te escolho...


Te escolho...
Na sintonia mais fina
que me habita.
Te escolho...
Anseio profundo me diz
da energia amorosa
feliz,
da alma das coisas
que cercam consciente
água interior
que flui,
calma e serena,
percepção, leveza,
de afeto,
genuino amor.
Te escolho...
Em sagrado
louvor...

(Gaiô.)

M@ria

Há no amor um momento de grandeza
Que é de inconsciência e de êxtase bendito
Os dois corpos são toda a Natureza
As duas almas são todo o Infinito

É um mistério de força e de surpresa
Estala o coração da terra, aflito
Rasga-se em luz fecunda a esfera acesa
E de todos os astros rompe um grito

Deus transmite o seu hálito aos amantes
Cada beijo é a sanção dos Sete Dias
E a Gênese fulgura em cada abraço

Porque, entre as duas bocas soluçantes
Rola todo o Universo, em harmonias
E em glorificações, enchendo o espaço

(Olavo Bilac)

M@ria

Vagos sonhos


Vagos sonhos
Levam as insanidades
Para o meio da rua
Em procissão
Desconexas e incoerentes.
Meras impropriedades...
Verdades soberbas
Vociferam arrogância e
Determinam uma insônia
Perdida em meditações inúteis.
Pensar o pensamento,
Virar de bruços
Essa inútil caminhada
Nominada vida,
Desfiando conceitos,
Conjecturando teses,
Construindo mentiras,
Convencionando hipocrisias
E doutrinas perdidas
Na imensidão dos
Incautos becos mentais...
São atos em prelúdios
Que se perdem na desarmonia
De deuses indolentes e tristes.
A vida é uma grande mentira
Que abriga no ventre
O sentido vago da verdade
E da razão ...
Gestação interminável
Que explodirá no renascer de tudo.


Gilson Froelich

M@ria

Sombras...


Do que fomos, do que
pensávamos ser nada mais...
Sombras...
Fui aquela que te amou...
Que na tua vida fez morada e
tu aconteceste em mim...
Agora dúvida atormenta a alma triste...
Olho-me... Caminho...
E não vejo a estrada em meio a
pranto confuso...
Vês o que fizeste?
Eu fui inteira em ti!...
Foste dono dos meus sentimentos e
sujaste com mentiras o santuário que
abrigava teu amor...
Sombras...
E o que posso esperar?
Antevejo minha desdita e a
solidão grita em meu silêncio...
Tudo jaz sem vida na casa da esperança...
Só encontro sombras...


(Cida Luz)

M@ria

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Hoje


Hoje
não sou as margens que te enlaçam como ninfa mareante,
a vogar arrebatada, nua e pura, sem miragens
na corrente do teu rio cristalino,
nem a água que corre sagaz
na pele do teu corpo ainda moço.

Hoje
não sou o olhar atrevido à janela da tua procura
no fundo chão da verdade, nem gesto de pássaro errante
na tua rota aparente de gazela perdida,
a viajar acordada na distância que te aparta de mim.

Hoje
não sou fome nem sede, alvoroço, desejo ou ardor.
Muito menos o bombeiro incendiário
do teu acirrado fulgor, ou mente de boca insana
que percorre, consistente, a carne dos teus loucos segredos.

Hoje
sou o silêncio que escuta na concha o mar do teu grito,
sou o sussurro do vento sem distâncias que te enroupa de concórdia,
sou o murmúrio da chuva miudinha
que te chama para a margem certa num rio de janelas luminosas.

Hoje
sou o teu amo, o teu escravo, sou o recato escondido
do teu segredo encontrado.

(Nilson Barcelli)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Onde estás?


A lágrima corre
Beija-me o rosto
Traz-me o teu gosto
Pergunta-me por ti,

Onde estás?

Nesta noite de Luar
Que escrevo
Poemas de amor
Procurando teu olhar?

A lágrima escorre
Trazendo tua essência
Caindo no chão
A mágoa que ocorre
Da tua ausência,

Onde estás?

Apenas o coração
Me responde...

Amo-te


Loucopoeta

M@ria

Minha Sombra

Tranqüila sombra
que me acompanhas,
em pedras rojas,
no ar te levantas,
acompanhando
meus movimentos,
pisada e escrava
por tanto tempo!

Vejo-te e choro
da companhia:
que nem sou tua
nem tu és minha.
E me pertences
e te pertenço,
mais do que à vida
e ao pensamento.

Sombra por sombra
toda abraçada,
levo-te como
anjo da guarda.

Tens tudo quanto
me quero e penso:
- frágil, exata.
(Amor. Silêncio.)

Ao despedir-me
do mundo humano
sei que te extingues
sem voz nem pranto,
no mesmo dia.
Preito como esse
tu, só, me rendes,
sombra que tinha!

Imensa pena,
que assim te deixe,
- ó companheira, -
sem companhia! ...

(Cecília Meireles)

RMoon

domingo, 27 de setembro de 2009

Buganvília


Buganvília, indiscreta trepadeira,
que sabes tudo sobre o meu amor,
vai dizer-lhe que à hora do sol-pôr
hás-de levar-me até à sua beira.

Diz-lhe que não achei melhor maneira
de lá chegar e, seja como for,
a noite que virá, ó trepadeira,
é minha e tua e do meu amor.

Torquato Luz

M@ria

Canção da Primavera


Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.

Catavento enloqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.

Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo...

Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!

(Mario Quintana)

M@ria

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Amo em Silêncio

Carrego dentro de mim este amor por você
Um segredo que a sete chaves estou a esconder
Tenho um local somente meu para te encontrar
É quando a noite chega e você vem me amar

Você é a sombra que não deixo ir
É a lua que me espera para dormir
É como estrelas que fazem minha noite brilhar
Quando meu dia está triste por você não estar.

Passeio com você escondida em meu coração
Esperando apenas o momento de nos encontrar
Amo em silêncio, carrego oculto esta paixão.

Já não é possível mais dos outros te esconder
Pois em meus olhos todos podem te ver
É uma luz que reluz onde quer que eu esteja.

(Ataíde Lemos)

RMoon

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Poesia é..


Recitar a alma
Ouvir as emoções
Exaltar o amor
Também falar da dor
Descrever as sensações
mais puras do ser humano.
É voar na imaginação
É ser um pouco insano
É levar sentimentos
Dar alento aos sofrimentos
É propagar luz e otimismo
É descrever o desejo de um
Sonhado paraíso.
.
Poesia é
Doar um pouco de si
Aliviar a dor de um amigo
Dar ao coração um doce
e mágico abrigo.
.
Eu queria ser poetisa para derramar
Em versos infantis e ingênuos
O mais belo sentimento,
Mas, a mais bela poesia é a que
um coração recita a outro coração
apaixonado quando diz:
EU TE AMO!


(Sirlei L. Passolongo)

M@ria

Seu toque


O toque de suas mãos
Quentes e firmes
Roçaram minha pele fria.

O seu toque despertou-me
Tremores e chamas
Que ameaçaram me consumir.

Rapidamente tento voltar
A realidade, mas é difícil
Estou amedrontada pelas
Centelhas que fluíram entre nós.

Eram provenientes de chamas
Que disparavam meu coração
Fundiam-me as entranhas e
Obstruíam minha mente com
Imagens que seria melhor ignorar.

Éramos com se tivéssemos
unidos por um cordão de fogo ...


Lete Dias

M@ria

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Milagre Quântico.


Tenho todas as tessituras
Todas as demarcações
Todas as rotas e inserções.

Todos os matizes
Todos os contornos frementes
Todas as gotas ardentes.

Tenho todos os sonhos
Todos os fonemas rubros
Todas as nuances sem escuro.

Todos os hiatos e ditongos
Todas as cerejas
As delirantes framboesas.

Tenho todos os desígnios amorosos
Todas as acariciantes delícias
Da nossa paixão as primícias.

Sinto, guardo, resguardo
Remeto, saboreio
Esse beijo que ainda não dei
por inteiro...


Karinna*

M@ria

BORDANDO A VIDA


Dos passos para frente
Como o belo ponto corrente;
Com elos de segurança,
Bordo bem destacada a esperança.

Bordo em alto relevo
Os mais puros desejos;
Em conjunto pontilhado:
Os sentimentos desejados.

Bem alinhavada e franzida
A felicidade na vida.
Com pontos graúdos,
Coloco o amor em tudo.

A linha bem resistente
Ajusta o consciente.
E o ponto cruz
Ilumina com a sua luz.

Bordam lindas gravuras
Em grandes aventuras.


Hortência Lopes

M@ria

Alma

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

(Fernando Pessoa)
RMoon

NOITE DE SETEMBRO


Ainda me lembro
Daquela noite de setembro
Onde tudo parecia eterno
Que nunca chegaria o inverno
E que a primavera duraria
Para sempre
As flores multicores
Perfumavam sutilmente
Nosso amor ardente
Minha alma sorria
Tanta paz
Tanta alegria
O real sonho
De um mundo risonho
E outros setembros vieram
E com eles outras primaveras
Disso eu também me lembro!
Mas nem as prímulas
Nem as acácias amarelas
Exalaram o mesmo perfume
Daquela noite de setembro.

Simplesmente Teresa

M@ria

Não procuro nada


Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.


Manuel António Pina

M@ria

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Tua Voz Na Primavera

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!

(Florbela Espanca)
RMoon

"NOITE DE PRIMAVERA"


Floriu da noite pro dia
lindas flores são aquelas,
flores que você colhia
rosas brancas e amarelas.

Floriu em tempo de flores
no início da primavera,
flores para os meus amores
nunca vi flores tão belas.

Só vi uma flor igual...
a que eu tinha na lapela,
de tão usada muchou.

Flor que plantei no quintal
colhi pra ofertar a ela,
ela, que é meu doce amor.


Antonio Hugo

M@ria

Minha Namorada.


Diante da lua quero confessar,
Sob milhões de estrelas te dizer,
Que teu amor me faz sonhar,
Sem ele não consigo viver!

Faz-me pelos sonhos navegar,
Meu coração e alma te querer,
Todo meu ser se apaixonar,
E nesta áurea me envolver!

Sentir teu calor me assanhar,
Nas curvas do teu corpo me perder,
Em teu bálsamo me embriagar!

Te amar sob este anoitecer,
Deixar teus desejos me dominar,
Enquanto te pertencer!!!!!

POETA CIGANO

M@ria

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Na Surdina

O silêncio me habilita
Não é meu esse delírio
E nele me burilo

A rever gestos
Que se espaçam
Nesse mundo vadio

O silêncio me habita
Não é meu esse martírio
E nele me exilo

A romper restos
Que se esgarçam
Nesse fundo vazio

(Cris de Souza)

RMoon

domingo, 20 de setembro de 2009

Noite de Saudade


A noite vem pousando devagar
Sobre a terra, que inunda de amargura…
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura…
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura…
E eu ouço a noite imensa soluçar!
E eu ouço soluçar a noite escura!
Porque és assim tão ’scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu nem sei donde me vem…
Talvez de ti, ó noite!… Ou de ninguém!…
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!


Florbela Espanca

M@ria

Intervalo


Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?…
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.


Fernando Pessoa
In ‘Cancioneiro’ (1913)

M@ria

Pequena elegia chamada Domingo

O Domingo era uma coisa pequena.
Uma coisa tão pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mãos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.
Hoje os montes e os rios
e as nuvens
não vêm nas tuas mãos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios ...)
O domingo está apenas nos meus olhos
e é grande.
Os montes estão distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas.

(Eugênio de Andrade)

RMoon

sábado, 19 de setembro de 2009

MUSA


Nenhum perfume disse que chegaste.
Não houve sobressaltos, nem sinais.
Chegaste, assim como quem chega, e parte
de tudo parte, para nunca mais
achar o rumo, longe do que fui.
Resta de mim somente algo de novo,
muito antigo e completo, feito fogo
ou verdade, tão novo como luz,
cidade, paz, necessidade, pão,
algo tão novo como tudo em vão.
E segue meu delírio a te seguir.
Nenhum perfume disse que partiste.
"E não partiste", meu delírio insiste.
Talvez perdido em ti dê trégua a mim.


Luis Antonio Cajazeira

M@ria

segundos eternos


a duração de uma eternidade
eterniza-se pela sua duração
que se etrenize a tempestade
pois sereno se faz eternização

e se chover uma gota ao chão
o chão lhe suga com veracidade
pra se eternizar feito furacão
esse queima a dor da saudade

e se eternizado fico eu, oh flor
floristes meu ser, puro, terno
no pulsar vivaz do nosso amor

eternizando o teu seio, eu quero
deglutir o nosso arco-íres de cor
e ser teu abrigo mais que eterno.

beija-flor-poeta

M@ria

PRIMAVERA NO CORAÇÃO


Queria estar contigo num lugar,
Onde pudesse ver nos olhos teus,
Toda felicidade retida nos meus,
E onde só tu fosses o meu sonhar.

Estão andaríamos de mãos dadas
Pelos labirintos repletos de flores,
Lá onde a vida é um matiz de cores,
E borboletas fazem suas revoadas.

Falaríamos palavras com ternura,
Onde tempo para nós não passaria,
E ninguém conheceria a desventura.

No coração a primavera floresceria
Antes da estação, e a nossa ventura,
Completa em todos os sentidos seria.

Mrco Orsi

M@ria

Decore seu poema favorito.
Não acredite em tudo que você ouve,
gaste tudo o que você tem
e durma tanto quanto você queira.
Quando disser "Eu te amo"
olhe as pessoas nos olhos.
Fique noivo pelo menos
seis meses antes de se casar.
Acredite em amor à primeira vista.
Nunca ria dos sonhos de outras pessoas.
Ame profundamente e com paixão.

(Dalai Lama)

M@ria

Serenata

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que ele vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

(Adélia Prado)

RMoon

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

VENTO


assim me chama o vento
me despenteia os cabelos
nas teias do precipício
a vida começa hoje
começa sempre
desde o nada até a medula
todos os dias
colar os ossos
e ouvir o ruído
subterrâneo de um rio
a vida começa hoje
sempre por um fio
a alma é um pêndulo
leva as horas
de encontro
às pedras.

Roseana Murray

M@ria

VALSA


Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
- Os ares fogem, viram-se as água,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

Cecília Meireles

M@ria

Estrelas

Uma canção de
merecimento para o dia,
todos os dias...
Esse é o dever de casa
de todo poeta novo...

Por isso que todos os dias
vemos um menino
quase sem piscar,
quase sem parar de sorrir.
Olhando o invisível
(como é especial a palavra invisível
e suas possibilidades)

Suas almas nessa época
já eram bem mais sábias do que ele.
E dão cambalhotas
ao seu redor...
Ah! Essas autobiografias disfarçadas...

(Lupi - Luciano Lopes)

RMoon

Saudade


Saudade tem cor de ausência
Feito pétala esmaecida
Numa caixinha de lembranças
Guardada dentro do coração

Saudade tem tempo dolente
Dias de verão sem calor
Cheiro de melancolia
Num entardecer primaveril

Saudade tem nuance de tristeza
Sente fome da presença
Dilacera a alma
Sabor amargo sem viço

Saudade dor silente de amor
Tem olhos soluçantes
Tonalidade incolor das lágrimas
Orvalhando a face de solidão


(Sarah Siqueira)

M@ria

Fim!


Como perolas de aniz
Beijou-me a face à boca
Fugazes e por um triz
Em uma tarde louca.

Depois se fez poema
Deitada em pele morna
E foi o meu dilema
Que agora não retorna.

Quisera eu poder
Sentir de novo o ardor
Ao invés de morrer
Sufocado de amor.

Que culpa tenho eu
Querer-te tanto assim
Amar-te mais que a mim
Garanto-te doeu.

Um dia vais olhar
O tempo que passou
E vais querer voltar
Mas nada de nós sobrou.


Santaroza

M@ria

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Poema


Assim que eu abrir de novo os meus olhos,
meus pensamentos já não serão mais livres,
e minha alma, vencida, errará novamente pelas
estradas abandonadas.
Neste instante, porém, tudo me aproxima de
mim mesmo.
Há uma solidão imensa aqui dentro. Há janelas
abertas recebendo a noite.
Nunca me pertenci tanto como neste momento.
Nunca te pertenci tanto como neste momento.

Emílio Moura

M@ria

Adormecida

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
"Virgem! — tu és a flor da minha vida!..."

(Mário Quintana)

RMoon

DESVANESCENTE


fora do tempo,
espero a hora,
o luar lá fora,
a areia prateada,
o coração nas mãos,
a espreita nos gestos,
o gosto na boca,
os sentidos despertos,
a brasa no corpo...

a hora se gasta,
a lua se esconde
nas nuvens dispersas
a areia escurece,
o coração se divide
os gestos se crispam,
a boca se amarga,
os laços se rompem,
os sentidos se esgotam...

a hora se despe,
a lua adormece,
o corpo amortece,
as mãos envelhecem,
a boca se torce,
o viver se entorpece...

Dora Vilela

M@ria

Letargia


Hoje nada sei ou não queira nem saber
Não quero saber das estradas
Ou dos caminhos à percorrer

Não quero saber das horas
Nem dos dias e das noites
Não quero cuidar das rosas
Muito menos dos açoites

Não quero saber do tempo
Se chove ou faz calor
Não quero saber do vento
Nem ao menos do teu amor

Hoje não choro pelo que passou
Nem choro pelo que virá
Não quero saber quem sou
Nem esperar a dor passar.

Hoje quero apenas letargia
Sem nada querer ou pensar
Passar alheia como as nuvens
Em brisas suaves me deixar levar.

SERENA FLOR

M@ria

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Miragem

Ah! Se pudéssemos contar
As voltas que a vida dá
Pra que a gente possa
Encontrar um grande amor…

É como se pudéssemos contar
Todas estrelas do céu
Os grãos de areia desse mar
Ainda assim…

Pobre coração
O dos apaixonados
Que cruzam o deserto
Em busca de um oásis em flor
Arriscando tudo por
Uma miragem
Pois sabem que há uma fonte
Oculta nas areias…

Bem aventurados
Os que dela bebem
Porque para sempre
Serão consolados…

Somente por amor
A gente põe a mão
No fogo da paixão
E deixa se queimar
Somente por amor…

Movemos terra e céus
Rasgando sete véus
Saltamos do abismo
Sem olhar prá trás
Somente por amor
E a vida se refaz…

Somente por amor
A gente põe a mão
No fogo da paixão
E deixa se queimar
Somente por amor…

Movemos terra e céus
Rasgando sete véus
Saltamos do abismo
Sem olhar prá trás
Somente por amor
A vida se refaz
E a morte não é mais
Prá nós!…

(Marcus Viana)

RMoon

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Revés


vou pegar um vôo
antes que seja tarde demais
eu vou, não volto
nem por céu, nem no cais

vou até os astros
antes que entardeça horizonte
eu vou, sem rastro
bem de fronte, bem na fonte

vou sem hora, sem demora
aventurar em outros ares
que aqui não mais posso ficar
no ansiar por novos mares

vou sem rota, sem derrota
procurar outra parte de mim
que não sei onde perdi
no começo ou perto do fim


Cris de Souza & Cáh Morandi

M@ria

Ventania


O vento nada discreto
Sopra forte, e escandaloso.
Anuncia sua chegada.
É impossível não percebê-lo,
Não vê-lo tocando a copa das árvores,
Soprando nas janelas as cortinas,
Teimosamente penetrando
Pelas frestas das venezianas.
Uivando, assobiando,
Trazendo seus mistérios
Em seu incontido desejo de voar,
Deslizar por entre prédios
E fortes monumentos inertes.
Impetuoso e ao mesmo tempo ingênuo,
Sem constrangimentos se expõe
E se introduz entre as gentes,
Despenteando seus cabelos,
Colocando areia em seus olhos,
Penetrando suas veste,
Chamando a atenção.
É impossível não senti-lo
Acariciando as brumas,
Revoando as folhas já caidas,
Erguendo do chão o banal.
Ah, vento! Varre por favor minha dor!
Tira de mim a angústia e o temor,
mas não me desnudes com teu ímpeto
porque neste momento meu coração não pode se expor...
Ela está aqui dentro e ninguém pode saber.
Tira de mim vento forte, o medo de viver,
mas não tire de mim a coragem de amar.


M@ria

Canção Amiga


Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças


Carlos Drummond de Andrade

M@ria

De noite...

De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.

Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.

(Pablo Neruda)

RMoon

domingo, 13 de setembro de 2009

A fada azul


Ela dança as fases da lua
tece vento e o ar rodopia
põe no colo os bichos das ruas
põe no chão quem quer correria
põe as mãos de alguém entre as suas
e é o nascer de um sol, mais um dia
Do aroma rosa da arte
ela extrai a cor da alegria
do lilás do olhar de quem parte
faz o azul de quem ficaria
do vermelho ardor do estandarte
o nascer de um sol, mais um dia
Tem a solidão do poeta
a paixão da chuva tardia
escultora da linha reta
que a luz percorre e esta via
salta do seu olho, é uma seta
o nascer do sol, mais um dia
São brilhos de estrelas na perna
e a noite que a estrela anuncia
a paixão é estranha caverna
quem tem medo e amor já sabia
uma noite nunca é eterna
é o nascer do sol, mais um dia
Ela pisa as ruas do tempo


Oswaldo Montenegro

M@ria

Manhãs


Chegam faceiras as manhãs
envolvendo-nos em uma dança melodiosa
Com sua voz serena enternece a criança sonhadora.
Os sons da alva branca transluzem as cores do dia
Os beija-flores sugam o néctar das flores
como na primeira vez
Tudo é alegria!

Arnalda Rabelo

M@ria

Quero saber


Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com u te dou o meu
com uma condição: não nos compreender


Pablo Neruda (Últimos Poemas)

M@ria

Expressão

A arte é a expressão plástica do espírito
E o meu, livre, infinito e criativo manifesta-se com o ar
Como um grande véu nas mãos a dançar no vento
Muda suas formas, muda de direção sem hesitar.

É urgente, mas sabe esperar quando há calmaria
É fino, sutil, mas tecido por fibras fortes...
Não se aprisiona, dança a melodia dos ventos
Vaga pelo céu e chão...
Suja-se de lodo e é purificado pelas chuvas...
É pisado, acariciado...
Envolvente e aconchegante.

Meu espírito dança, voa, rodopia.
Cria e recria-se diariamente...
Cria laços, elos, nós.
Quanto mais forte mais brilha
Se tão só, desatina.

O só não é a falta de presença
Mas a presente falta de si mesmo.
E toda falta é sombria, seca, vazia.
A vida é a arte de estarmos cheios, de nós mesmos.

Estou me habitando.
Sou minha melhor inquilina...
E em mim, só entra quem eu deixar.
Teço a teia de minha própria vida; hoje, sem nós.

Minha expressão é a melhor
É moldada pelas estrelas, vento e chuva
É a expressão mais pura
Antiga e sagrada canção de adoração em coro
De muitas almas e vidas que, em equilíbrio,
Fazem de um pano velho, virar ouro.

(Carolina Salcides)

RMoon

Porque... Te amo?


Solta e leve, minha alma será
Basta apenas ver o teu rosto...
E livremente inquieta sonhará
Sonhos de amor ao Sol-posto!

E te olhando, meu coração versa
Os puros versos da tua alma...
Sentimentos que tanto se anexa
Ao amor que meu olhar reclama!

Oh visão, que meus olhos clama
Esses olhos derramando ternura
Escorrendo em mim, a viva chama

A chama que arde, assim tão pura,
Ardendo no peito o amor que ama,
E quando mais arde, mais se apura!


Loucopoeta...

M@ria

sábado, 12 de setembro de 2009

Lição de Casa

Você tampa a panela,
dobra o avental,
deixa a lágrima secar no arame do varal.
Fecha a agenda,
adia o problema,
atrasa a encomenda,
guarda insucessos no fundo da gaveta.
A idéia é tirar a tarja preta
e pôr o dedo onde se tem medo.
Você vai perceber
que a gente é que faz o monstro crescer.
Em seguida superar o obstáculo,
pois pode-se estar perdendo
um espetáculo acontecendo do outro lado.
Atravessar o escuro
até conseguir tatear o muro,
que é o limite da claridade.
Se tiver capacidade para conquistá-la,
tente retê-la o mais que puder.
Há que ter habilidade, sem esquecer
que a luz é mulher.
Do inferno assim desmascarado,
é hora de voltar.
Não importa se é caminho complicado,
se a curva é reta,
ou se a reta entorta.
Você buscou seu brilho, voltou completa;
jogou a tranca fora, abriu a porta.

(Flora Figueiredo)


RMoon